02 janeiro 2018

Ano Novo


“A irracionalidade ao poder”, podia ser o titulo das cenas de ano novo na TV.
Todos pulam, gritam, empurram, tentam açambarcar a imagem da câmara televisiva, numa euforia incontida e de etiologia muito subjectiva. 
Alguns bebem em excesso; talvez sem darem conta, talvez porque a intenção seja mesmo perder a noção da realidade por instantes.
Entre aproximadamente os 14 e os 25 anos, a ocasião fazia-me vibrar. Depois, passei a vivê-la como um momento sem grande importância, antecessor da subida do custo de vida. Dá-me ideia que certo tipo de maturidade, decorrente das experiências vividas, nos cinge os marcos a ocasiões muito mais conotadas com nascimentos, mortes, viagens ou doenças e outras datas marcantes destes calibres. “Antes de” e “depois de” passam a ser as nossas referências cronológicas, alheias ao calendário gregoriano.
Talvez passada a marca da juventude toda a nossa perspectiva se altere e nos faça olhar as tais cenas de euforia no réveillon como irracionais. O tempo cada dia mais voraz, o horizonte encurtando sorrateiramente fazem-nos relativizar a importância dos episódios, seleccionar companhias, programas, projectos. Tanto sonho adormecido, tanto desejo adiado, tantos dias que ditaram responsabilidades e urgências diluentes do individual ao serviço do familiar.
Queremos saborear o que temos. Valorizamos o sossego e a saúde.
Tememos perder os que amamos e as capacidades físicas e cognitivas. Recebemos notícias inesperadas, por vezes chocantes. Estabelecemos novos objectivos, tentando fintar os reveses sucessivos. 
Continuamos a aprender. Não abdicamos do sonho.

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