No estúdio,
soçobra uma melodia.
Os espelhos retribuem a pele suada.
A bailarina, só, na sala vazia
Limpa o suor à toalha lavada.
Após o plié e os passos de dança
Firma a barra, fita o espelho.
Desenha um cambré, fica, descansa
Na réstia de acordes dum ritmo velho.
Abraça com as pernas uma cadeira
Despida de cor, calada, triste,
E recorda, da manhã, a brincadeira
Que a despertou para o sexo em riste.
Quebra-se o remanso
No abrir da porta,
Vai-se o descanso
Fica a sala torta.
Quando o amante,
Veloz e selvagem,
Entra de rompante
Buscando a miragem
Das coxas de seda
Rodeando a cadeira
Numa labareda
Envolvendo-a, inteira.
Estende-lhe a mão,
Puxa-a para si
E já a outra mão
Ateado o fogo,
Procuram-se as bocas.
Começa o jogo
Das línguas loucas.
O membro ereto
Voraz, sedento,
Num ângulo reto,
Lambe-a por dentro.
Um pas-de-deux nunca ensaiado
Esboça-se na luxúria dos sentidos,
Faz da cadeira leito improvisado
Ao som de beijos, gritos e gemidos.
Reflete-se no espelho o desejo urgente,
Ergue-se o punhal para o festim guloso
Dança, sobe, desce, num prazer crescente
Que leva ao orgasmo doce e langoroso
Termina empatada a luta de titãs
Caem saciados os beligerantes
Jaz encolhida a espada que,
pelas manhãs,
Saúda o dia com ímpetos escaldantes.