26 setembro 2012




Há coisas que não nascem connosco. Dão mais cor à vida, mas exigem ser descobertas.
Se, há uns anos, me limitava a apreciar o verão e a primavera, dou por mim, nos mais recentes, a apaixonar-me pelo outono, a mais fotogénica das estações.
O outono é uma espécie de antecâmara. Um período que apela à mudança de ritmo, numa preparação para o frio do inverno, para a azáfama, cada vez menor, da época natalícia. Dias mais curtos, pintados de tons acastanhados e ocres, enquadram o regresso às aulas, cheio de expectativas e promessas.
Calçadas atapetadas contra a descida da temperatura acompanham a cada vez mais desafiante tarefa de deixar o quentinho da cama de manhã. Nos fins-de-semana, o desejo de devorar um livro, de fio a pavio, ou preparar uma tarde de cinema, vem substituir o apelo estival da praia. Em vez de mergulhar com amigos, apetece beber um bom vinho com estes, a acompanhar um jantar aconchegante.
Abrandar o ritmo é coisa que começa a parecer-me bem, a mim, uma acelerada inveterada. Saborear o não fazer. O não racionalizar. Dar tempo às coisas.
Nisto, o outono parece-me a estação mais de acordo com o ideal de quem gosta de escrever. Aprendi que não quero estar sempre a andar, a correr, a fazer. Quero parar, de vez em quando. Deixar fluir. Saborear. Porque, por vezes, continuar é apenas continuar a ir mal.
Pressinto que este meu outono vai mesmo associar-se a abandono. Proponho-me abandonar certos hábitos desgastantes e investir mais no que embeleza a vida. Chamem-me lírica, ou hedonista. Eu tenho outro nome, para uma nova fase.

21 setembro 2012

Com Alzheimer não se brinca...

Se há palavra que não gosto de ouvir pronunciada à toa, essa palavra é “Alzheimer”.
Quantas vezes dita quando alguém constata ter-se esquecido de algo, nem sempre se referindo ao nome em si mas, em jeito de piada, “já deve ser o amigo alemão”.
Não acredito que quem já sentiu a dor do Alzheimer, aquela que mora cá dentro para sempre, possa sequer pensar em associar um simples lapso ao pesadelo duma demência como esta e com ela tentar ser engraçado.
Não é uma memória enfraquecida. Não é a incapacidade de fazer contas. Não é a desorientação, nem a perda da noção do perigo.
Alzheimer é uma doença incapacitante, sem cura e que apaga tudo.
Apaga da mente de quem dele padece a capacidade verbal, a noção do dinheiro e dos números, a autonomia.
Alzheimer transforma uma pessoa num ser que deixa de reconhecer quem ama, passa a não saber cuidar de si mesmo e termina sem ser sequer capaz se alimentar e beber, isso é um inferno.
Viver de perto a doença de Alzheimer é ver um pai, uma mãe, alguém que nos é tudo, pôr a mão num tacho com água ao lume sem saber do perigo desse gesto, enfiar os dedos numa tomada, guardar sapatos na gaveta da roupa interior. É olhar nuns olhos que nos deram vida e ver só ausência. Nem pingo da pessoa que foi. Um modelo que tivemos, convertido em bebé grande, num corpo que definha e adoece com outras mazelas. São infeções respiratórias e renais, sucessivas, é o perigo das escaras quando as pernas já não têm ligação ao cérebro que as comandou, é a incontinência dum organismo que entrou em colapso.
Alzheimer é a dor duma doença que deixa os familiares cuidadores ao abandono. Porque os restantes familiares se afastam “prefiro lembrar-me dele(a) como era..”, porque as dúvidas são mais que muitas, a angústia sufocante e a revolta infinita. Não há uma resposta social para quem tem Alzheimer na família, e deixa de haver apoio emocional para quem quer ter de volta o que já não retorna.
O futuro torna-se aterrorizador, o presente impossível.
Alzheimer é um monstro mau, pior que todos os terrores duma infância normal.
É o nosso sorriso roubado, a vida sem sentido, o luto antes do luto.
(Publiquei anteriormente alguns posts sobre este tema, que podem ser visualizados ao clickar na barra lateral direita sobre a etiqueta “Alzheimer”)

17 setembro 2012

Um dia importante na vida familiar: 2 novas escolas, 2 novas etapas



Hoje, a Mafalda e o Vasco começam novas fases das suas vidas.
A Mafalda, com seis anos, aguarda há mais de um ano pela entrada para o 1º ano.
Autónoma, decidida, ela escolheu a escola que foi do irmão para fazer o seu 1º ciclo.
Conhecida por professores, funcionárias e alunos, não se importa de deixar as antigas turmas, da escola onde frequentou por 2 anos o ensino pré-escolar, e diz, muito segura do que afirma: “eu vou encontrar novos amigos”.
Aguarda ansiosa pelo momento de decifrar as linhas dos livros, cheias de letras que escondem histórias de imaginações mágicas. Mas espera que haja muitas ocasiões para fazer desenhos.
Quis a sorte que a professora que vai acompanhá-la ao longo destes 4 anos fosse precisamente a que ensinou o Vasco no seu 1º ciclo, concluído há 3 meses.
Acho que, no final deste trimestre, já lerá historinhas de voz doce e me deliciará com alguns bilhetes oferecidos de surpresa com um carinho até agora apenas desenhado e polvilhado por conjuntos de letras ad hoc.
O Vasco iniciou o ensino básico ainda com 5 anos e agora vai para o 2º ciclo com 9, embora mais alto que os colegas uns bons centímetros. A cabeça ainda muito infantil, a responsabilidade adiada, mas o raciocínio e o cálculo bem desenvolvidos prestaram atenção às recomendações que achei necessário fazer-lhe, a respeito dos locais que escolhem para brincar, dos meninos mais velhos, da necessidade de não dar confiança a quem não conhece, ainda que sejam alunos da mesma escola…
Vai habituar-se a gerir horários diferentes, a utilizar o cartão de aluno para pagar material escolar e refeições, vai conhecer uma panóplia de professores e rever os amigos, alguns dos quais ficaram na mesma turma. Curiosamente, um até voltou a ser seu colega de turma 4 anos depois!
Já vibra com a possibilidade de fazer surf no desporto escolar e sonha em conhecer outros paíse,s inscrevendo-se no Clube de Estudos Europeus.
Como qualquer mãe, emociono-me ao ver os meus “bebés” encetarem novos desafios. Como algumas mães, sempre os incitei a serem autónomos, a enfrentarem de peito aberto cada etapa da vida, a não recusarem uma oportunidade. Como apenas poucas, eu sou uma mãe que os acompanha de perto no seu percurso escolar, gostando de estar presente em tudo o que diz respeito à escola e representando os encarregados de educação de cada uma das turmas dos meus filhos.
Quero vê-los responsáveis, auto-confiantes, decididos e independentes, na medida das suas idades. Mas que sintam, em cada momento, que os incentivo e acompanho, que conheço os seus amigos e respectivas famílias, que participo, dou ideias e ajudo no que posso nas respectivas escolas, presente no meio escolar como no seio familiar.
Não sei o que serão quando crescerem. Só desejo que sejam felizes, equilibrados, e que eu, com todos os defeitos que por vezes demonstro, seja por eles vista como uma mãe que desempenhou bem os diversos papeis, apesar de todos os senãos que qualquer mãe tem, como os tem qualquer filho, qualquer pai. Qualquer um de nós.
 

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