27 novembro 2011

(tela da autoria da minha grande amiga Alex)

Fado.
Fado música.
Fado destino.

Confesso que acordei para o Fado tardiamente.
Como para a poesia.
Primeiro, o gosto pela música e pela leitura. Só depois, senti desenvolver-se em mim o gosto pelo fado e pela poesia.
Apesar de me sentir cada dia mais “miúda”, sinto que a maturidade me tem feito descobrir uma variedade de prazeres nas múltiplas facetas da vida.
O Fado é apenas um dos casos.
E foi emocionante ver que, quando o sonho é de todos, o resultado é este: Fado, património de todos.

24 novembro 2011



Vim. Perco-me em ti vezes sem conta,

Invento um oceano que sentes em mim,

Faço do tempo nosso aliado,

Como relógio sempre avariado.


Vim. Adormeço em ti, após o acto mais nobre,

Invento novas formas de te sentir.

Fecho os olhos, no teu ombro, no teu cheiro,

Minha loucura, meu devaneio primeiro.


Vim. Repito o teu nome, chamo-te, reclamo-te,

Grito em prazer o doce que és e que quero.
Abandono-me, presa a ti, à cama, a tudo
Sabendo que hoje, amanhã e sempre te espero.

19 novembro 2011


Olhou para dentro de si, tentando descodificar a indisciplina de emoções que se desenhavam, ver para além do caminho que percorrera até então.
Pressentiu que uma fase da sua vida terminava ali, naquele instante.
Como quando as uvas murcham nas vinhas, uma partitura ganha pó em cima do piano ou a pintura duma casa estala, exibindo as agruras de anos sem reparação.
Há dias assim, cheios de sentidos ocultos, de pressentimentos que nos tomam por completo.
Enterram filosofias de vida, memórias doridas. Fecham feridas por sarar.
São pontos altos de auto-descoberta. Mistérios que se descodificam.
Promessas de tudo, dependentes da cor com que se pintam os sonhos e da mestria que qualquer obra de arte exige ao seu autor.

14 novembro 2011


Chegaste.
E contigo a vida brilha mais forte.
Reluzem sorrisos num fogo sedutor,
Olhos nos olhos.
Um braço-de-ferro ganho
A tempos de perturbada contemplação.
Chegaste.
E aprendi a segurar-te
Esse olhar de Sol, de estrelas e encanto.
Na tua pele, vivo todos os silêncios
Onde escondíamos poemas.
Nas tuas mãos, o sonho ganha forma
E a dúvida dissipa-se: existes.
Chegaste.


10 novembro 2011

Sinal azul


Proximidade na distância anulada,
Reencontro adiado, a noite florindo,
Fomos riso, medo, gula agrilhoada
Num sono, enganado, já fugindo.

Histórias de silêncios e cavalos marinhos,
Azuis que se acendem nos nossos sinais.
Tatuagens onde trilhamos caminhos,
Fôlegos perdidos em traços tribais.

Não sabemos o toque, a pele arrepiada,
O rubor que nos toca quando nos sentimos,
Mas criamos enredos, esculpidos do nada
Que é tudo nas horas em que, juntos, rimos.

06 novembro 2011

Lembrança


Revejo esse olhar malandro, menino saboreando de antemão a delícia que se anuncia.
Sinto (sinto-o sempre) o calor aveludado das mãos hábeis percorrendo o meu espírito enquanto me aquecem o corpo.
Repetidamente, adivinho-te o peito onde gostava de me aninhar, embalada pelo aroma das memórias mais inebriantes.
Uma e outra vez, a respiração e o dedilhar unem-se pelo ritmo das danças livres de roupas, ao som do riso terno e do desejo animal que tão bem conjugamos.
A urgência junta novamente peles que se complementam no hall, amparadas pela parede cúmplice de um querer inadiável. Inesquecível.
Há uma explosão de vontades, uma mística de mútuo conhecimento profundo, mais adivinhado que vivido, conducente a um estado de alma tão sublime quanto o prazer físico.
E sei-me viva porque pulsa cá dentro, hoje e sempre, a lembrança de nós…

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