31 dezembro 2008

Feliz Ano Novo

Passagem do ano

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor, os irreparáveis uivos do lobo,
na solidão.

O úlimo dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário
uma mulher e seu pé
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre a esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas,
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

(Carlos Drummond de Andrade)

30 dezembro 2008

Blogoprémio

O Escrito a Quente termina o ano com uma atribuição, proveniente dos blogues da Si e da Vekiki, do Prémio Dardos.

"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc, que, em suma, demonstarm sua criatividade atrvés do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.
Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue a web".

Regras:
1) exibir a imagem do selo
2) linkar o blog pelo qual se recebeu a indicação
3) escolher outros 15 blogues a quem atribuir o prémio Dardos.

Fácil, não é? NÃO!
Porque em menos de dois anos de blogosfera, descobri escritas que nunca mais deixei de acompanhar, imagens que me deixam boquiaberta perante a sua beleza, poesias que vão ao âmago do que se sente. E descobri pessoas.
Criei muitas empatias, senti leitores tronarem-se mais amigos que os da chamada vida real. Que intuem se se passa algo, que mantêm o contacto e estranham a ausência, pessoas com quem se marcam encontros quando a amizade já extravaza o simples plano de um telefone.
Aqui, já ri, já desabafei, já sorri e chorei. Já guardei palavras e músicas, já senti carinhos vindos de longe, abraços transatlânticos. Estamos no plano onde tudo é possível, há magia neste mundo. Por isso é tão difícil a escolha, em alguns casos. Porque sei que pode haver outros blogues, com os quais sinto alguma identificação, a ficarem de fora.
Mas, regras são regras e desta vez vou respeitá-las, pois até me dão oportunidade de premear quinze blogues. São eles:

O Cheiro da Ilha, Blue Velvet, Fórum Cidadania, O Meu Sofá Amarelo, Sophiamar, Sexta-Feira, Só Faltava um Trinta e Um Na Minha Vida, Por Entre Montes e Vales, Ares da Minha Graça, Um Quarto de Fadas, Reflexões Exteriores, Partilha de Emoções, O Cantinho da Terra do Nunca, De Amor e de Terra, Pitanga Doce e uma amiga cujo desejo de preservar o anonimato eu respeito. Uma amiga feita de luz...

28 dezembro 2008

(foto minha)

Embrulha as mágoas no teu sono, e diz-lhes adeus durante um sonho.

(Linn Ullmann, em Antes de Adormeceres)

24 dezembro 2008

Um bom Natal


A todos os amigos, aos leitores ou meros visitantes pontuais do Escrito a Quente, desejo o Natal mais caloroso, em família e com paz.

22 dezembro 2008

(foto minha)


Surpreendeu-a. O que não era propriamente fácil. Foi apanhada desprevenida perante uma proposta inesperada.
Mas não era mulher de receios, de modo que respondeu logo que sim. E voou em direcção ao encontro marcado.
O afastamento já durava havia algum tempo. Pelo menos o físico, já que o tecnológico era mantido.
Foram horas a saber a minutos, os primeiros num menor à-vontade. A espontaneidade foi surgindo e aumentando, a proximidade feita de risos partilhados, toques furtivos, contacto visual mais ou menos intenso.
E a vontade de ficar ali. Uma vontade crescente. Ter de condensar muita conversa em poucos momentos. Amizade e gratidão, temperadas por uma proximidade ambígua.
Pequenos sinais. Indícios? Meros nadas?
Começa-se a desembrulhar a alma na hora da despedida. Relutância em ter de despedir-se. Abraçaram-se como se abraça o tempo, a vida num momento, como diz a canção. Horas com sabor a pouco.
A vida adquiriu novos tons, naquele dia. E não só devido à enorme bola laranja, perfeita e quente, que a saudava no caminho de regresso. As cores novas eram as de uma alma tranquila, um coração alegre, um olhar sorridente. De quem nunca duvidou que a imaginação viesse a esquivar-se, mas sentia que ela sofrera um novo e forte impulso.

21 dezembro 2008

Tempo de enviar cartões


Há hábitos que faço questão de fazer perdurar. Um deles é escrever.
Escrever via correio, note-se, já que as outras escritas são mais frequentes, aqui ou em bilhetes/recados.
Enviei os cartões de Boas Festas na semana passada, já fui recebendo alguns e este é um dos aspectos que aprecio no Natal.
Não sou das pessoas que vivem a quadra mais intensamente, mas sinto, em cada postal que envio ou recebo, que alguém investiu uns minutos a recolher umas palavras de atenção, a pôr em prática um gesto de amizade. A investir tempo (esse bem cada bem mais escasso...) em quem se gosta.
Não se admirem aqueles que, por acaso, possam ainda não saber que não costumo dar seguimento a apresentações de Boas Festas em Powerpoint. Muitas são as pessoas com quem falo ao telefone na quadra de Natal e Fim-de-Ano, escrevo a algumas outras, até deixo votos de Natal neste blogocanto. E ainda sou menina para mandar uns sms, que já não me agradam tanto, até porque às tantas já não se sabe a quem se mandou, respondeu, etc. Para não falar dos nomes trocados, quando há mais que uma Rita ou um Paulo, por exemplo.
Mas os cartões, esses aprecio-os tanto que os exponho na mesa do hall de entrada e conservo-os ao longo dos anos.
Relíquias? Não: sentimentos.

20 dezembro 2008

Vai-se o Outono...




e é o dia de aniversário da minha tia. Aquela que há um ano mereceu um texto angustiado (para ler aqui) , porque a deonça nos fez crer que a data dificilmente voltaria a ser comemorada.
Mas, como mulher forte que é, a minha tia trocou as voltas aos planos do inimigo invisível e disse-lhe: olha, vai até ali hibernar indefinidamente, ok?
E ele foi.
E nós hoje vamos comemorar.

18 dezembro 2008

A calçada estava tão limpa, a rua tão vazia, que o passo apressado não obstou a que os olhos reparassem naquele lindo rectângulo vermelho, ali repousando no frio das pedras.
Não tinha por hábito recolher nada do chão. Ainda sentia as palavras proferidas na infância pela mãe: do chão só se apanha dinheiro ou ouro.
Mas foi um ímpeto incontornável. O apelo vermelho finalmente na sua mão, foi virado, revelando uma surpresa. O sobrescrito tinha remetente, havia escrito um endereço de um destinatário, mas o seu interior estava vazio.
Um envelope lindo, escrito com uma letra cuidada, sem conteúdo. Alguém pegou num montinho de correspondência e foi aos correios, sem se dar conta que este caiu, pensou.
Lamentável. E a coincidência da época, em pleno meio do mês de Dezembro, não deixa espaço para lamentações. Num rasgo quase de necessidade, decidiu, de rompante, fazer uma boa acção.
Aquele Bruno não ia deixar aquela Lara sem uma surpresa natalícia. Ela própria se encarregaria disso. Afinal, tinha as moradas e, a roer-lhe a vontade, aquele bichinho que rumina surpresas e boas acções.
Pensou, ponderou as diversas opções, fez um esforço mental para se recordar do que a faria sorrir. Não queria despachar o assunto sem um toque diferente, nem demorar tanto tempo a tomar uma atitude que esta pudesse chegar apenas após o Natal.
No dia em que foi ao balcão dos correios, pois percebeu que a franquia seria um pouco acima da habitual, sentiu-se especial. Saiu de lá com um sorriso tão brilhante quanto secreto, pensando na reacção da Lara quando abrisse a carta do Bruno e de lá retirasse uma flor de Natal, uma estrela de papel em origami, um cartão natalício com dois bonecos de neve tão ternos que só visto, escrito com tinta dourada e rematado com beijos. Tudo envolvido em estrelinhas minúsculas, brilhantes, que se derramariam no seu colo assim que ela abrisse a surpresa, recheada das mais ternas palavras e preparada por uma estranha. Uma estranha cheia de vontade de embelezar vidas.

(p.s: esta imagem não é minha; alguém muito especial fez-me esta surpresa hoje: encheu-me de flores)

17 dezembro 2008

(foto minha)


As lágrimas continuam a cair sem parar. Se ficar aqui mais um minuto que seja, tenho uma perfuração e sai-me tudo cá para fora.


(Linn Ullmann, em Antes de Adormeceres)

15 dezembro 2008

Desafio da Gi

Naquele tempo, a minha mãe tinha uma loja em Paço de Arcos, de modo que, quando o comboio lá parava, não era só o café para a minha mãe que comprávamos no quiosque da estação, mas também as queijadas de leite e as revistas infantis.
Foi através do Fungagá da Bicharada e da Heidi que a minha mãe me incutiu o desejo de aprender a ler.
Lia para mim nos momentos mortos na loja e, já em casa, enquanto preparava o jantar. E dizia que, assim que eu aprendesse a ler, poderia entreter-me sem ter de estar sujeita à sua disponibilidade.
O meu pai trazia-me, das bancas da estação do Cais do Sodré, os almanaques Disney: Patinhas, Pateta, Donald e, claro, Mickey. Preocupava-se a minha mãe, pois na época estes eram importados do Brasil e o seu receio era que eu começasse por ler justamente obras que referiam “bala” em vez de “rebuçado”, “ónibus” em vez de “autocarro”, “vovó” quando se tratava de uma avó, etc.
A teoria do meu pai era diferente; o que interessava era a miúda ganhar o gosto pela leitura, depois haveria de expandir as suas predilecções e fazer a triagem dos diferentes modos de escrita.
Vieram outras bandas desenhadas, a Mafalda, os Strumpfs e outras menos conhecidas.
As Fábulas de la Fontaine, Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma, da Irene Lisboa e O meu pé de laranja lima, do José Mauro de Vasconcelos. Começava a deitar a mão a um livro por sistema, para viajar na minha imaginação infantil de filha única, que, na prática, era o que eu acabei por ser.
Se ia passar um fim-de-semana a casa da minha tia, perguntava-lhe: Ó tia, não tens aí um livrinho para me entreter?, ao que ela, que só conservava antigas obras de literatura mais madura, me respondia: Não, não me lembro de nada. Olha, só se pegares no jornal.E eu assim o fazia. Mas ela arrependia-se; é que não parava de lhe perguntar o significado desta e daquela palavra.
Vieram os livros da Anita, mas lia-os sem grande interesse. Um dia descobri Alice Vieira. E foram Rosa, minha irmã Rosa, Lote 12-2º frente, Chocolate à chuva, A espada do rei Afonso, Este rei que eu escolhi… Saboreei-os com um gosto tão especial que ainda hoje tenho o maior carinho por eles. Até a minha mãe gostou de lê-los. Aqui, já numa troca de papéis: fui eu que lhos aconselhei.
Mais tarde, Os Cinco, pois claro, e As Gémeas, mas estas colecções não as tinha; eram livros emprestados. De amigos ou da biblioteca itinerante.
E a Sue Towsend, com o seu Adrian Mole e sequelas, mais uma vez risadas minhas e da minha mãe.
Esta dissertação sobre leituras de infância foi-me proposta pela Gi, que fez também a apresentação das suas obras de referência e passou a ideia a outros bloguistas. E eu passo-o à Blue Velvet, que adora estes desafios, à Pitanga, sempre inspirada, ao Tiago, que deve estar quase, quase a ter mais tempo, com as férias natalícias, ao António, que nunca se poupa a pesquisas quando um tema lhe merece consideração, ao Jo Ra Tone, que tem uma forma muito própria de elaborar uma história em torno de quase nada, à Pipinha, para quem tudo é terura e à Fada, pois sendo professora e fada terá, certamente, muitas leituras a recordar num exercício como este.

14 dezembro 2008

Há dias de sobressalto. De fretes sem fim, tarefas que não interessam nem ao menino Jesus, impropérios guiados na estrada, insultando a vida. Falta de vontade para tudo o que nos espera, uma vontade urgente do que nos é vedado.
Dias em que engolimos isto, consentimos aquilo, vivemos uma hora após outra, na esperança de, assim, ir-dando-para-o-gasto...
Cada pequeno ruído é um susto, cada imprevisto transforma-se em grito. E há gritos que queimam. Queimam as entranhas de quem lhes dá voz e o coração de quem os escuta.

A impaciência corrói, a falta de perspectivas destrói.
Resta-nos encontrarmos as nossas próprias formas de equilíbrio.
E, assim, um dia deita-se a mão a uma overdose de bom humor. Foi o que fiz.
Primeiro, de uma penada, como há muito não sucedia, sorvi as Crónicas do António Lobo Antunes.
O efeito foram umas gargalhadas incontinentes. Alguma comoção, mas, sobretudo, boa disposição. Um homem que ri de si próprio, que escreve tanto algaraviadas satíricas como elogios comovidos ou dilacera saudade infinitas e faz tudo isto num estilo muito seu, que me prende.
Para rematar o dia, revi o Mamma Mia. Voltei, nem que por uns momentos, a ser eu. Ri, cantei, esbracejei, dancei e pus os filhos a dançar, sorri, emocionei-me.

13 dezembro 2008

Até um dia...

Fazias hoje anos. Trinta e sete.
Partiste cedo demais...
Estive lá, no outro dia. Fui ao local que representa agora a tua morada, guiada por saudades avolumadas com o tempo. Não me deixaram despedir de ti, era demasiado miúda.
Não partas nunca mais...

12 dezembro 2008

(mostrando-me o dedo médio):
- Mãe, lá na escola disseram que este é o dedo da asneira.
- Pois, há quem diga isso, filho...
- Como é que pode ser o dedo da asneira se é o Pai de Todos???

11 dezembro 2008

Querido Pai Natal

Começo por uma confissão: sabes, até há pouco tempo não acreditava que existisses. Vá, não ponhas esse ar carrancudo, eu já explico.
Acreditava no valor da família, na importância das tradições, no gosto de oferecer.
Mas, em relação ao Pai Natal, a minha crença era tão forte como a possibilidade de vir, um dia, a encontrar o tesouro de Francis Drake no jardim...
As convicções mudaram.
Constatei que família é uma palavra, umas vezes sinónima de amiga, outras não...
Aprendi que a tradição não é nada sem a vontade de cada um de nós. Que o gosto de oferecer é escasso e, na maioria dos mortais, se resume a dar coisas, não tempo, nem atenção, afecto...
E descobri que as crianças têm muito mais verdade.
Elas devem ter razão, ao dizerem que existes.
Qual recompensa pelo esforço, qual cada-um-colhe-aquilo-que-semeou! Na vida, muitas vezes trata-se de uma questão de sorte.
E eu resolvi ser uma sortuda bafejada pela imaginação, pelo ideal do Pai Natal

E, como me comportei tão bem ao longo do ano, peço-te duas coisas como prendas de Natal. Só duas:

TRABALHO
HARMONIA

Dás, não dás?

10 dezembro 2008

Dia especial

Hoje, é o aniversário de uma amiga muito especial.
Não vou debruçar-me aqui sobre todos os pormenores que a distinguem. Ela sabe; já ficou escrito no papel, em anos anteriores.
Mas não é todos os dias que uma amiga linda, bem-disposta, sincera -mesmo se incoveniente em termos sociais- faz anos. E hoje é o dia.
Por isso, querida, hoje estou nos copos contigo, a comer bem e a comentar todos os exemplares do género masculino que por nós passem, a rir daquelas piadas privadas e a lembrar episódios passados. (A minha imaginação sempre fértil...).
Ou simplesmente a trocar olhares que descodificamos com uma magia típica das amigas verdadeiras.
Um brinde! Que nunca te faltem anos para comemorar, disposição para rir, amigas com quem te divertires e amores com que adoçar a vida.
UM XI DAQUELES!

08 dezembro 2008

(foto do André)

Embala-me a música dos teus beijos, a melodia das tuas palavras sussurradas.
O coração, ansioso, bate ao ritmo do desejo que nele despertas. As ideias fundem-se numa só, o dia-a-dia é levitação, suspenso numa certeza: a de te desejar. Quero-te pelo que és: amigo, promessa, mistério. Luz filtrada pelo tule da expectativa.
Fio condutor de um não-sei-quê que se insinua nos minutos dos meus dias, poesia neste tempo de drama.
Fecho os olhos e sinto o toque com que me percorres, electrizando-me em ondas de intensidade crescente. És um doce, e eu saboreio a doçura com o cuidado que só se tem quando se quer, sobretudo, conservar um tesouro.
Descubro-te com prazer, tacteio-te saboreando o teu tronco, as mãos, todo o teu ser. Dou-te a provar pele quente, que exala um perfume inebriante, inigualável.
És viagem de norte a sul, do pescoço aos pés, no meu percurso de reconhecimento. Detenho-me em todos os teus vales, percorrendo cada colina enquanto ouço o ronronar do teu afecto numa entrega feita de sentimento.
Lambo-te os lábios e lambuzo-te os poros, sucumbindo ao teu tacto.
A harmonia é isto; sermos os dois e querermos o mesmo, uma e outra vez. E, com jeito e vontade, sempre.
A aproximação cultiva-se, o desejo alimenta-se, o amor desenvolve-se.
Atracção é coisa de gente viva e eu só quero morrer daqui por muito tempo.
Guardo-te, dentro de mim, porque enquanto quisermos será assim.
Horas depois, acordo, não sabendo se será neste dia que irei conhecer-te.

07 dezembro 2008

Vida nova

As minhas belas adormecidas repousaram vinte e tal anos. Hibernaram Invernos e Verões numa mala à espera de voltare à vida.
Não houve um príncipe encantado que as beijasse, não houve um relógio descompassado que trocasse as voltas ao tempo.
Houve, isso sim, uma pequena princesa, loura e de olhos azuis, tal qual como nas histórias. Uma princesa de dois anos e meio, que por acaso é minha filha.
A Mafalda desenvolve, todos os dias, os gestos de mamã que eu já fazia quando era pequena. Deita as bonecas, sempre de barriguinha para baixo, tapa-as com mantinhas e põem uma chucha diante de cada uma.
Acorda-as, dá-lhes banho, dá-lhes papa, ralha com elas quando se portam mal.
Foi ela a pincesa que me fez desencantar as bonecas. Vou-lhe dando uma hoje, outra daqui a dias, e elas volta a brincar após décadas de inércia.
Só não sei que fazer para tornar os seus cabelos mais "penteáveis": estão ásperos e algo emaranhados. Como não sei quando terei oportunidade de ir a Lisboa, ao Hospital das Bonecas, agradeço se alguém me souber dizer que fazer. E a Mafalda também...

05 dezembro 2008

O Alentejo das emoções

Foi aqui que estivemos. Na orla do Alvito, a paz sob a forma de casinha de bonecas.
Os dias eram feitos de frio, muito frio. Um passeio a pé a partir das cinco da tarde era sinónimo de anestesia facial.
Foram dois dias de fuga à rotina, dias de matar saudades do Alentejo e de uma amiga.
Como vizinhos, dois póneis e uma avestruz. Como programa, um passeio pelas redondezas e uma ida à Feira do Montado, em Portel.
Ficam as fotos e a lembrança de uma pausa que soube muito bem.



03 dezembro 2008

O Alentejo das Videiras





Como prometido, aqui está um post em tons inebriantes. Espero que o saboreiem como quem bebe um bom vinho de aroma frutado. Um vinho quente e reconfortante, oposto ao frio que se fazia sentir no Alvito no passado fim-de-semana.

O Alentejo das Oliveiras



No fim-de-semana passado, matámos saudades do Alentejo.
Dias frios, mas passeados. Cheios da beleza que só a mãe Natureza consegue.
A aplacar as mágoas dos últimos tempos, a paisagem alentejana, a calma da planície. Como sempre, tirei muitas fotografias. Achei que ficaria bem apresentá-las aqui divididas em capítulos.
Assim, hoje ficam as fotos das oliveiras. Em campos verdejantes ou secos, que nesta época vê-se e tudo.
Inspirem e relaxem.
As próximas fotografias terão um tom mais inebriante...

02 dezembro 2008

Outono Vermelho





Deixo testemunhos da beleza outonal, com a promessa de que, brevemente, aqui vos demonstrarei como o Alentejo continua belo.

28 novembro 2008

Até sempre!

Lembram-se de a minha mãe ter dito aqui que lá na minha escola fazemos coisas lindas, e que o tema deste ano é "Cem Diferenças Sem Diferenças"?
Pois aqui vos deixo algumas fotografias que comprovam que na escola, além de brincarmos com outros meninos, aprendemos algumas coisas. E criamos.
Na fotografia de cima, podem ver os meninos da minha sala, em redor de um globo terrestre feito de esferovite.

Nesta, bem como na de baixo, estão os trabalhos das salas dos quatro anos e do grupo heterogéneo. Somos todos uns artistas, não acham?

Hoje, é o último dia em que vou à escola. Como a minha mãe está atarefada a terminar as lembranças para as educadoras e a fazer todas aquelas coisas que as mulheres fazem, mais as malas para o fim-de-semana, sou eu quem vos deixa este artigo.
Eu sei que terei saudades dos meus colegas e das minhas educadoras, da escola e das suas rotinas. Sei que vou estranhar não ver todos os dias a Vanda, a Teté e a Andreia, não correr até à sala da minha antiga educadora Mafalda (como eu), não fazer teatrinhos, não ter música para acompanhar com claves, enfim, não estar mais integrada nas rotinas e no espaço escolar.
Mas não percebo porque é que a minha mãe está tão chorosa...
Acho que tem a ver com aquilo de nós sermos o seu calcanhar de Aquiles (o que será que é isso???) e de ela dizer que o mais importante somos nós. Parece que ela não queria mesmo ter de mudar os planos que tinha para a nossa educação e agora está que não se contém...
Mas eu vou dar-lhes muitos miminhos e brincar com ela como brinco com os meus bonecos e logo, logo, ela vai sentir-se melhor.
Depois, volta a ser ela a publicar aqui os posts, combinado?
Beijinhos a todos,
Mafalda.

27 novembro 2008

O Desafio da Si

Manhã. Muitos planos, imenso corre-corre. Um banho de emergência quando constato que a fralda da noite transbordou.Lista de afazeres: ir à apresentação quinzenal, responder a anúncios de emprego, preparar lembranças para dar na escola da Mafalda, ir ao centro de cópias fotocopiar uma fotografia dos miúdos para ilustrar os envelopes com os desenhos que fizeram, passar a ferro, dar um recado na escola do Vasco, ir pondo de lado roupas, calçado, ganchos, fraldas e brinquedos para levar de fim-de-semana, entre outras coisas.


As voltas de rua estão dadas. Vou só ver os e-mails e depois atiro-me aos afazeres.
Pronto: fui apanhada! A Si acrescenta-me a lista dos assuntos a tratar: resolveu passar-me um desafio, daqueles tipo partidinha marota.
E em que consiste este desafio? Vejam só: tenho de escolher um cantor ou um grupo (desculpem, mas eu não digo banda- essa, é a filarmónica ou a do coreto. Para mim é assim, ponto final), com cujos nomes de músicas eu responda a dez questões. São elas:


1. És homem ou mulher? Essa miúda
2. Descreve-te: Deixa-me rir
3. O que é que as pessoas acham de ti? Optimista céptico
4. Como descreves o teu último relacionamento? À espera do fim
5. Descreve o estado actual da tua relação: O meu amor existe
6. Onde querias estar agora? Na Terra dos Sonhos
7. O que pensas a respeito do amor? Frágil
8. Como é a tua vida? Trapézio
9. O que pedirias se pudesses ter um desejo? Encosta-te a mim
10. Escreve uma fase sábia: Há sempre alguém



Jorge Palma está na moda agora, mas eu gosto da sua obra há muitos anos. Assisti a um concerto meio intimista no Casino Estoril há alguns 17 anos, que veio reforçar a empatia com as letras das canções. Entretanto, os anos foram passando e eu continuo a admirar a originalidade criativa, a musicalidade humorada, o sarcasmo intrínseco.

O desafio, esse passo-o a:

Carminda
Blue Velvet
Maria
Alexandre
Elvira
Sophiamar

26 novembro 2008

(Foto minha)

“Tive uma ideia”!- exclamo eu, como se estivesse a meio de uma brincadeira de crianças.
“’Bora fazer com a vida como se faz no dentista? Quando estiver a doer, fazemos sinal com a mão. E a vida, que é uma profissional competente, interrompe e volta a fazer, desta vez com outro cuidado, para não doer…”

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin